Plano de Aula: O índio na literatura brasileira

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EIXO TEMÁTICO: A LITERATURA E OUTRAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS
Tema: A representação do índio na literatura brasileira

Objetivos: Reconhecer, em textos literários apresentados, o processo de aculturação do índio brasileiro.

Providências para a realização da atividade: Trechos de O guarani, de José de Alencar, um poema de Gonçalves Dias e uma charge contemporânea.

Pré-requisitos: Conhecimento dos gêneros literários e dos estilos de época ( Romantismo)

Descrição dos procedimentos

Apresentar uma visão panorâmica de O guarani, de José de Alencar, apontando as relações desse romance com as novelas de cavalaria, por exemplo: a casa de D. Antonio de Mariz lembra um castelo feudal; Cecília e Isabel são como as donzelas; D. Antonio de Mariz é um fidalgo que se associa a um rei; há cavaleiros e escudeiros, como D.Diogo, Álvaro e Aires Gomes. Peri é o herói, que combate um bruxo inimigo (Loredano).

A ideologia medieval reflete-se na estrutura social do romance: o poder do fidalgo, incontestável, pois ele é “senhor de baraço e cutelo”, o que realça as projeções ideológicas do eurocentrismo. Peri é um índio que vai, gradativamente, deixando suas características de chefe indígena para converter-se ao catolicismo, o que ocorre também com Poti, em Iracema.

Essa marca ideológica da cristianização do índio pode ser apresentada, também, com poemas de Gonçalves Dias, notadamente em “O canto do índio”, em que a integração do indígena implica em perda de sua identidade étnica e cultural, uma vez que o guerreiro se submete aos valores da virgem branca dos cristãos. Propõe-se uma análise comparativa entre a relação Peri/Ceci, em O guarani, e a do eu-lírico do poema “O canto do índio”, de Gonçalves Dias, transcrito a seguir:

Quando o sol vai dentro d’água
Seus ardores sepultar,
Quando os pássaros nos bosques
Principiam a trinar; Eu a vi, que se banhava…
Era bela, ó Deuses, bela,
Como a fonte cristalina,
Como luz de meiga estrela.

Ó Virgem, Virgem dos Cristãos formosa,
Porque eu te visse assim, como te via,
Calcara agros espinhos sem queixar-me,
Que antes me dera por feliz de ver-te.

O tacape fatal em terra estranha
Sobre mim sem temor veria erguido;
Dessem-me a mim somente ver teu rosto
Nas águas, como a lua, retratado.

Eis que os seus loiros cabelos
Pelas águas se espalhavam,
Pelas águas, que de vê-los
Tão loiros se enamoravam.

Ela erguia o colo ebúrneo,
Por que melhor os colhesse;
Níveo colo, quem te visse,
Que de amores não morresse!

Passara a vida inteira a contemplar-te,
Ó Virgem, loira Virgem tão formosa,
Sem que dos meus irmãos ouvisse o canto,
Sem que o som do Boré que incita à guerra
Me infiltrasse o valor que m’hás roubado,
Ó Virgem, loira Virgem tão formosa.

As vezes, quando um sorriso
Os lábios seus entreabria,
Era bela, oh! mais que a aurora
Quando a raiar principia.

Outra vez – dentre os seus lábios
Uma voz se desprendia;
Terna voz, cheia de encantos,
Que eu entender não podia.

Que importa? Esse falar deixou-me n’alma
Sentir d’amores tão sereno e fundo,
Que a vida me prendeu, vontade e força
Ah! que não queiras tu viver comigo,
Ó Virgem dos Cristãos, Virgem formosa!

Sobre a areia, já mais tarde,
Ela surgiu toda nua;
Onde há, ó Virgem, na terra
Formosura como a tua!?

Bem como gotas de orvalho
Nas folhas de flor mimosa,
Do seu corpo a onda em fios
Se deslizava amorosa.

Ah! que não queiras tu vir ser rainha
Aqui dos meus irmãos, qual sou rei deles!
Escuta, ó Virgem dos Cristãos formosa.
Odeio tanto aos teus, como te adoro;

Mas queiras tu ser minha, que eu prometo
Vencer por teu amor meu ódio antigo,
Trocar a maça do poder por ferros
E ser, por te gozar, escravo deles.

(DIAS, Gonçalves. Primeiros Cantos. Belo Horizonte: Itatiaia, 1998, p.24)

O professor deverá enfatizar, na análise, as semelhanças e diferenças estilísticas dos recursos apropriados em romance e poema. Valorizar a presença de símiles, pois a natureza se associa a figuras humanas. No texto poético, deve ser apontado que a voz poética identifica-se com um índio que se apaixona por uma branca, loira e bela, a quem se submete, numa evocação que lembra o sacrifício de Cristo, pois ele deseja “calcar agros espinhos sem queixar-se”. Tanto no romance quanto no poema, o índio sobrepõe o amor à branca aos valores de sua cultura. Após relacionar essa voz poética e o herói de O guarani, o professor poderá apresentar a charge abaixo publicada na Folha de São Paulo, em 10/12/2008, solicitando ao estudante um texto sobre a aculturação do índio:

Possíveis dificuldades

Identificação de aspectos medievais no romance de José de Alencar. Vocabulário dos autores românticos, principalmente o que consta na poesia de Gonçalves Dias. Recorrência de hipérbatos no poema de Gonçalves Dias. Interpretação metonímica do termo “ferros”, no poema, sugerindo a submissão do índio, à maneira de escravo da virgem branca.

Glossário

Agrosacres, agudos, penetrantes
Maçaclava
Ebúrneoda cor do marfim
Níveoda cor de neve

Roteiro de Atividade: O índio na literatura brasileira

Currículo Básico Comum – Língua Portuguesa Ensino Médio
Autor(a): Gilberto Xavier e Luiz Carlos J. Maciel
Fonte: Centro de Referência Virtual do Professor – SEE-MG/2008

Leitura recomendada

A Terra dos Mil Povos: História do Brasil contada por um índio
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