O que é a Consciência? Saiba tudo sobre.

Aprenda o que é consciência e faça exercícios de fixação!

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Aprenda o que é consciência e faça exercícios sobre esse assunto de filosofia para o 1º ano do Ensino Médio.

Definição de consciência

Não é simples conhecer nem explicar o que é a consciência, pois dependemos justamente dela para fazer isso. Existe uma recursividade em saber que se sabe, em sentir que se sente – enfim, em ser consciente de que se é consciente. É o que torna esse tema fascinante, como destaca o médico e cientista português António Damásio (1944-):

O que pode ser mais difícil do que saber como sabemos? O que pode ser mais grandioso que o fato de entender que ter consciência torna possível, e mesmo inevitável, nossa interrogação sobre a consciência? (Sentir lo que sucede, p. 20. Traduzido.)

  • Recursividade – capacidade que algo tem de poder aplicar-se sobre si mesmo sucessivas vezes, cada vez usando como base o resultado de sua aplicação anterior.

A consciência costuma ser entendida, portanto, como um fenômeno ligado à mente, esfera em que ocorrem diversos processos psíquicos (pensamento, imaginação, emoção, memória, entre outros), especialmente o conhecimento.

Para vários estudiosos, nada caracteriza mais o ser humano do que a consciência, pois é ela que nos permite estar no mundo com algum saber, “com-ciência”. Como assinala o paleontólogo e filósofo francês Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955):

O animal sabe. Mas, certamente, ele não sabe que sabe: de outro modo, teria há muito multiplicado invenções e desenvolvido um sistema de construções internas. Consequentemente, permanece fechado para ele todo um domínio do Real, no qual nos movemos. Em relação a ele, por sermos reflexivos, não somos apenas diferentes, mas outros. Não só simples mudança de grau, mas mudança de natureza, que resulta de uma mudança de estado. (O fenômeno humano, p. 187.)

Devido a essa diferença específica entre os humanos e os outros animais, durante certo tempo nossa espécie – classificada biologicamente como Homo sapiens (“homem que sabe”) – foi designada por alguns estudiosos como Homo sapiens sapiens: o ser que sabe que sabe.

Isso quer dizer que somos capazes de fazer nossa inteligência debruçar sobre si mesma para tomar posse de seu próprio saber, avaliando sua consistência, seu limite e seu valor.

Essa capacidade seria a base – pelos menos em boa parte – das grandes criações humanas, como a ética, o direito, a arte, a ciência e a filosofia. Ou seja, sem consciência, não haveria nada disso.

Observando a consciência

O curioso é que, em geral, tenhamos tão pouca percepção de nossa consciência no dia a dia. Isso não ocorre, porém, em todo o mundo. Em algumas culturas orientais, por exemplo, a meditação é uma prática frequente, pois muitas pessoas costumam dedicar regularmente algum tempo para a observação da própria consciência e sua expansão, estimulando a introspecção – habilidade muito importante para quem filosofa.

  • Introspecção – observação que uma pessoa faz do que ocorre dentro de si mesma, da própria mente e seus processos.

Se podemos dizer que o método científico construiu durante séculos o conhecimento do Ocidente, devemos acrescentar que o seu equivalente no Oriente foi a meditação, que durante milênios edificou a sabedoria das suas culturas mais tradicionais. (BYINGTON, A construção amorosa do saber, p. 270.)

Façamos, então, uma experiência. Por alguns minutos, vamos tentar ser mais introspectivos, procurando observar a consciência de uma maneira mais vivencial e direta, um pouco à maneira de Descartes em suas Meditações ou dos sábios do Oriente.

Primeiro busquemos o estado oposto ou a negação da consciência: quando é que não estamos conscientes e o que acontece então conosco? Em condições normais, entramos nesse estado todos os dias ao dormir, o que corresponde a cerca de um terço de nossas vidas. Enquanto dormimos, nossos sentidos estão desconectados de tudo o que ocorre a nossa volta, ou dentro de nós mesmos e de nossos corpos. Durante o sono, se não sonhamos, supõe-se que não temos nenhuma sensação, nenhum pensamento ou sentimento, nenhuma lembrança, imaginação ou fantasia. Não percebemos nada.

Algo semelhante parece ocorrer quando perdemos os sentidos em um desmaio. Somos então como um quarto vazio, escuro e silencioso. Parece que nada acontece. Quando despertamos, esse “quarto” começa de novo a encher-se de “luz” e de “objetos”. Voltamos a sentir nossos corpos e diversas impressões e pensamentos passam a preencher nossas mentes.

Também podemos usar a imagem da escuridão para entender essa frase tão comum: “Eu não sabia, eu não tinha consciência”. Nesse caso, não estávamos desacordados, no sentido literal da palavra, mas sim no sentido metafórico. Havia um objeto, um sentimento, um conhecimento que estava em um canto escuro de nosso “quarto” e que, por isso, não podíamos vê-lo. De repente, foi “iluminado”, passando a integrar a totalidade consciente de nosso ser

Sentimento de si e do objeto

Vejamos, agora, o que é a consciência do ponto de vista neurocientífico. Adotaremos, para tanto, a interpretação de António Damásio, que combina biologia com um pouco de filosofia.

  • Neurocientífico – relativo às neurociências, isto é, aos diversos ramos da ciência que estudam o sistema
    nervoso, como a neurobiologia, a neurofisiologia, a neuropsiquiatria, etc.

Sempre me intrigou o momento específico em que, enquanto esperamos sentados na plateia, percebemos um movimento e um intérprete entra em cena, ou, para adotar outra perspectiva, o instante em que um intérprete, esperando na penumbra, vê abrir-se as cortinas, que revelam as luzes, o palco, o público.

Sem importar o ponto de vista que se adote, há alguns anos entendi que a comovedora intensidade desse instante provém de que encarna uma instância de nascimento, de passagem pelo limiar de um mundo restrito e protegido para a possibilidade e risco de um mundo mais amplo e exterior.

[…] sinto que entrar em cena também é uma vigorosa metáfora da consciência, do desabrochar de uma mente que sabe, da simples e significativa chegada da sensação de self [si mesmo] ao mundo mental. […]. Escrevo sobre a sensação de self e sobre a passagem da inocência e ignorância à sapiência e à individualidade. (Sentir lo que sucede, p. 19.)

Desse modo, segundo Damásio, estar consciente envolve não apenas um ato de conhecer o que acontece, como geralmente se entende: implica, basicamente e como primeiro estágio, um sentir. Vejamos o que isso significa.

Enquanto você lê este texto e capta o significado dele, ocorre um processo em seu cérebro que lhe indica que é você e não outra pessoa que está envolvido nesse ato de ler e entender o texto. Esse processo, diz o neurocientista, configura uma “presença” – a “presença” do observador que é você. Ela corresponde, em seu organismo, a uma sensação ou sentimento.

Trata-se do:

[…] sentir o que acontece quando o ato de apreender algo modifica seu ser [os processos físico-químicos que ocorrem dentro de seu cérebro]. A presença jamais descansa, desde o despertar até o dormir. A presença deve estar aí, senão você não está. (Sentir lo que sucede, p. 26.)

Em algumas patologias mentais, por exemplo, acredita-se que a pessoa perde contato com essa “presença”. Dizemos que ela se “ausenta”, embora esteja acordada e reaja aos estímulos externos até certo ponto de maneira normal, mas automaticamente. Essa pessoa estaria tendo, portanto,  um distúrbio da consciência.

Assim, no processo de conhecer, a consciência seria o “padrão mental” unificado que se forma quando se conjugam o sentimento de si (self) e o objeto que se percebe e se torna conhecido. Sem sensação ou sentimento de si não há consciência (cf. DAMÁSIO, Sentir lo que sucede, p. 27).

Consciência e identidade

 Menino e cão acompanham atentamente algum acontecimento. Em que se diferenciam então suas consciências?

Essa sensação de self, ou sentimento de si, relaciona-se basicamente com o aqui e agora, com o presente. Não há um antes ou um depois. É, por exemplo, a experiência de ver neste instante estas letras impressas enquanto você lê este livro, combinada com a sensação de que é você que vê, e não outro ser. Consegue perceber isso? Pois, então, esse é o primeiro passo do processo de estar consciente. Corresponde ao nível mais básico do processo de conhecer.

Como afirma Damásio, trata-se de um fenômeno biológico simples, vinculado ao sistema nervoso, que não seria exclusivo dos seres humanos. No entanto, essa consciência nuclear, básica, quando se insere em determinado ponto da história de um ser que é capaz de estabelecer relações entre seu passado e seu futuro – como nós, os humanos – em um fluxo contínuo, torna-se uma sensação de si mais elaborada.

É assim que surge – em mim, em você, em qualquer um – a consciência do eu, da própria identidade: em outras palavras, a percepção de um conjunto de caracteres próprios que se mantêm no tempo e no espaço do corpo físico, constituindo o si mesmo, por oposição ao outro.

Trata-se de um fenômeno biológico complexo vinculado, além das emoções, também à memória, à linguagem, à razão e que apresenta o potencial de evoluir durante a vida inteira de um indivíduo (cf. DAMÁSIO, Sentir lo que sucede, p. 32-33). 

Por meio desse fenômeno biológico complexo – a consciência ampliada – o ser humano também adquire conhecimento de suas transformações durante sua existência, bem como do mundo que o rodeia.

Esse fenômeno teria possibilitado não apenas as inúmeras criações humanas, mas também a problematização da própria existência individual – “quem sou eu?”, “para que estou aqui?”, “o que devo fazer?” – e outras questões ligadas à angústia existencial e à filosofia.

Experiência privada

Observe também que, tanto do ponto de vista biológico como psicológico, a consciência é uma experiência marcadamente privada, que se vive apenas na primeira pessoa. Isso quer dizer que ela pertence apenas ao organismo ou indivíduo que a tem e não pode ser compartilhada diretamente com mais ninguém.

No entanto, à consciência estão muito vinculadas as condutas – e estas sim podem ser observadas por terceiros. Em outras palavras, as condutas são experiências públicas, isto é, podem ser percebidas por mais de um indivíduo ou organismo e potencialmente por todos.

É, portanto, pelo que dizem e fazem as outras pessoas que normalmente inferimos que elas, como nós, têm ideias, pensamentos, sensações e sentimentos – tudo o que se relaciona com a consciência –, embora não possamos conhecer diretamente o que pensam e sentem.

Natureza da consciência 

Se a consciência constitui um fenômeno mental, qual será, então, a natureza da mente? Os fenômenos mentais
estão relacionados com nosso corpo físico, nossa biologia, ou constituem uma instância à parte? São apenas físicos ou apenas psíquicos? São corporais ou espirituais?
A maioria das pessoas tende a pensar que existe uma “mistura” ou combinação das duas coisas no processo de estar consciente: algo ocorre no cérebro, mas tem um desdobramento não corpóreo, imaterial. Essa foi nossa abordagem até agora, nosso pressuposto.

  • Pressuposto – aquilo que antecede ou constitui algo necessariamente; ideia que se supõe antecipadamente a outra.

No entanto, será que faz sentido pensarmos em uma “mistura”?  Como essas duas instâncias se combinam? A dimensão corporal determina a consciência, ou será o contrário?

Exercícios para fixação do conteúdo

Conexões

1. Faça a seguinte meditação para observar sua consciência:
a) sente-se ou deite-se em um lugar cômodo e respire profundamente várias vezes, procurando relaxar todo o corpo e a mente;
b) observe atentamente o ar entrando e saindo pelas narinas (a inspiração e a expiração) e procure não pensar em nada;
c) por último, ponha sua atenção sobre esse “eu” que observa o inspirar e o expirar a cada instante, repetidamente, sem cessar; fique assim durante meia hora;
d) depois, elabore um relato sobre essa experiência de observar sua consciência, suas dificuldades e descobertas.

Análise do Texto

1. Formule uma definição geral de consciência.
2. Relacione a recursividade da consciência com a antiga classificação do ser humano como Homo sapiens sapiens.
3. Como se forma, no âmbito da consciência, a noção de identidade?
4. Por que se diz que a consciência é uma experiência privada? O que pode torná-la pública?

Conversa Filosófica

1. Consciência e identidade – Pesquise e aprofunde seu entendimento sobre o tema da identidade, refletindo sobre as seguintes questões:
a) O que é a identidade de uma pessoa? Todas as pessoas têm identidade?
b) Como a identidade se vincula com a consciência? Você consegue perceber essa relação em si próprio/própria?
c) É importante que as pessoas valorizem suas próprias identidades?

  • Depois, reúna-se com colegas para uma troca de ideias e a elaboração de um documento que sintetize
    suas opiniões e conclusões, concordâncias e discordâncias.

Fonte: Fundamentos da Filosofia, 2015.

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